Foto: Sunrise, de Luciano Canelas |
Sim, eu sei... há tempos não publicamos no blog. Em 2011, o Arte sem Limites passou por tantas modificações importantes que optamos por dar total atenção a essas mudanças para oferecer ao público um projeto cada vez mais bonito e cativante!
Recebemos alunos novos... A equipe vivencia o desafio de atuar com a diversidade proposta pela Síndrome de Williams, pela Síndrome de Down e pelo Austimo clássico. Alunos com características fantásticas, como as de Marina que tem um interesse aguçadíssimo pelas relações interpessoais e que adora música, tornaram o projeto Arte sem Limites ainda mais encantador! Isso sem falar que não podemos perder de vista nossos alunos mais antigos...
E é uma história que aconteceu com um desses alunos que vou contar para vocês...
Ingrid inscreveu-se no "Arte sem Limites" em 2006 e, aos poucos, foi demonstrando sua percepção em relação ao que ocorre na totalidade do projeto, corrigindo nossas intervenções, sugerindo atitudes que melhorariam o trabalho desenvolvido no Arte. Logo, Ingrid se destacou na oficina de poesia, na qual ela se emociona profundamente, debate as questões filosóficas com maestria e não acata argumentos pouco convincentes (quem assistiu Ingrid recitar "Aninha e suas pedras", de Cora Coralina, deve ter sentido a emoção da presença dessa menina). No coral, sua voz de contralto garante a harmonia do conjunto. Na oficina de teclado, destacou-se como uma das alunas mais aplicadas. E recentemente assumiu o Comitê de Boas Vindas do Arte. Minha alegria ficou completa quando ela confessou o desejo de ser pedagoga. Bem... para uma pedagoga apaixonada por educação, ouvir que uma adolescente pretende seguir o mesmo caminho é, no mínimo, encantador!
Ocorre que Ingrid apresentou uma queixa... uma queixa que precisava ser sanada, mas ainda não sabíamos como poderíamos ajudá-la. Em seleções para emprego, essa jovem com tantas qualidades, não conseguia ser aprovada por um motivo simples: sua dificuldade com a língua portuguesa na modalidade escrita. Por ter baixa visão, Ingrid (assim como a maioria das pessoas com deficiência visual que eu conheço) comete erros ortográficos. Não ver a imagem da palavra dificulta a aplicação de uma grafia correta.
Essa queixa virou uma pulga atrás da minha orelha... Eu, que adoro a língua portuguesa e que atuo na oficina de poesia, fiquei realmente incomodada! Até que Carolina Poubel, sem saber dessa queixa, me propôs o seguinte: "Alline, que tal se o Arte sem Limites oferecesse uma oficina de projetos? Sim, projetos em que os alunos aprendessem a pesquisar sobre assuntos relevantes na vida deles e a escrever sobre o que pesquisaram, gerando um informativo?"
Então, convidamos Ingrid para uma reunião e, antes que apresentássemos a proposta para ela, Ingrid comentou:
"Eu, Samela e Jamilson estamos interessados em criar um jornalzinho do Arte... Na verdade, seria um jornal para falar sobre as coisas que acontecem nos bastidores. É que as pessoas só veem a gente no palco, mas não fazem ideia do que ocorre aqui, aos sábados... O que vocês acham?"
Eureka!
Essa pergunta foi como me oferecer um doce! Um brigadeiro de colher, para ser mais específica! Meus olhos brilharam, eu abri um sorriso de canto a canto e respondi: "Será que finalmente vamos conseguir criar uma atividade para você - e quem mais quiser - compreender língua portuguesa de maneira totalmente prazerosa? Ou você acha que sua queixa foi esquecida?"
Como fazer? O quadro de horários do Arte estava completamente lotado! Não cabia mais nenhuma oficina... A criação de uma oficina poderia ir por água abaixo ou esvaziar outras atividades já existentes. Foi então que propusemos o seguinte:
"Ok, Ingrid! Façam o jornalzinho. Quanto à língua portuguesa, criaremos um método para que vocês aprendam a corrigir o texto de vocês. O design do jornalzinho pode ser realizado por Carol Poubel, na Oficina de Ideias. E a divulgação pode ser on-line, feita por todos nós. Criaremos uma oficina virtual de língua portuguesa para que vocês se desenvolvam na produção escrita. O que acha?"
Os alunos Ingrid, Jamilson e Samela construíram o texto, definiram as editorias, colheram depoimentos e selecionaram fotografias. Em seguida, eles apresentaram a proposta aos alunos do Arte sem Limites, que batizaram o informativo com o nome "Bastidores do Arte". Como todo o processo foi democrático, a criação da primeira edição foi um pouco demorada e refere-se ao que ocorreu no mês de outubro, embora esteja sendo lançada no final do mês de novembro/11.
No fim das contas, é difícil descrever a sensação... Há quem diga que o mundo não tem jeito. Nós, do Arte, conseguimos atestar exatamente o contrário com os nossos alunos-professores. Educação é um projeto de paciência... e a autonomia é uma característica totalmente possível de ser conquistada, desde que os envolvidos se respeitem, se compreendam, tenham consciência do seu papel e desejem participar como coautores do processo.
Quanto ao doce informativo, você pode ler a primeira edição clicando aqui. Você também poderá conhecer a descrição do layout feita para que as pessoas com deficiência visual "vejam" como o design foi elaborado, clicando aqui.
E por que essa postagem começa com a imagem do nascer do sol? Nada como um dia após o outro, não acham?
Um abraço afetuoso,
Alline Andrade
Coordenação do Projeto "Arte sem Limites"