Sempre que vou ao projeto Arte
sem Limites, faço meu tour habitual pelas salas de aula para ver como estão as
atividades. Em algumas vezes, noto que minha presença pode atrapalhar, então um
“bom dia” ou um sorriso para o professor já é suficiente. Em outras vezes, me
deixo ficar ali na sala, assistindo à aula, “assuntando” – como diria uma velha
amiga da Bahia... Foi assim que, enquanto o professor Juliano ensinava violão
para um aluno em uma sala ao lado, me aproximei de Tâmara que tentava cumprir a
sua atividade. Ela devia preencher um diagrama de violão com as cifras de Dó,
Ré e Mi menor, com base em um modelo.
Para quem não sabe, as notas
musicais são representadas com letras cuja simbologia é reconhecida
universalmente. Assim, a letra C corresponde a Dó, D a Ré, E a Mi, F a Fá, G a
Sol, A a Lá e B a Si. Não há correspondência entre a inicial da palavra de uma
determinada nota com a letra respectiva, com exceção de Fá (F).
Voltando à atividade em questão, é importante
fazer uma breve apresentação sobre Tâmara. Sempre que existe uma situação em
que é preciso se apresentar, Tâmara abre um doce sorriso, diz o seu nome e, em
seguida, ela fala: “Eu sou Down! Você sabia?” Talvez essa mensagem signifique: “Eu sou uma pessoa que adora fazer amigos, sou alegre, mas também
tímida, sou espontânea e vivo o mundo da fantasia com uma facilidade imensa!
Você vai gostar de me conhecer!”.
Legenda: Tâmara vestida de Branca de Neve para a filmagem de um vídeo. |
Ao notar
que Tâmara estava concentrada naquela atividade, perguntei-lhe que nota era “D”e,
de imediato, ela respondeu: “Dó!”. Era a deixa que eu precisava para mediar
aquela atividade. Pedi licença ao professor Juliano e realizei algumas “brincadeiras”
com Tâmara. Inicialmente, perguntei o que vinha depois de Dó e ela, quase cantando,
me ofereceu a sequência correta como resposta. Então, escrevi no quadro a seguinte
informação:
C
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D
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E
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F
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G
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A
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B
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Tâmara
deveria escrever a nota correspondente, com base naquilo que ela sabia com
tanta propriedade... Qual a primeira nota? Dó... E depois o que vem? Ré...
Mi... Refizemos
esse exercício algumas vezes. Em seguida, para
avaliar o que de fato Tâmara tinha compreendido e o que ainda estava por
elaborar, apresentei um exercício simples, no qual ela deveria ligar a letra à
nota respectiva. Tâmara pensou, analisou, ligou, apagou o risco, refez... Ligou
o F em Fá (de Fábio, o namorado), consultou a atividade anterior...
Legenda: Tâmara consulta a atividade anterior. |
E me deixou com um orgulho daqueles!
Legenda: Tâmara analisa a atividade de correspondência. |
Pode parecer insignificante para
alguns, mas o fato é que estimular alguém a colocar em ação a sua capacidade de
análise e solução de um pequeno desafio cognitivo traz uma felicidade sem
medidas! A Tâmara não acertou tudo de primeira... Ela mesma percebeu onde havia
errado e aceitou repetir o exercício, mas com uma condição: “Quero fazer aula
de violão, Line!”. Era o sinal de que a atividade começava a aborrecer...
Ela voltou para o violão... Eu
voltei para a sala de stop motion... E saí com duas certezas:
1) Tâmara
conhecia a sequência de notas musicais;
2) Para
ela, G é de Sol, B é de Si, F é de Fá; Fá de Fábio, o namorado.
Legenda: Tâmara e Fábio em refilmagem da Branca de Neve. |
Ainda
não podemos falar sobre um final feliz, tivemos apenas um intervalo gratificante!
O final feliz é coisa de Tâmara e seu mundo de fantasia, mundo que podemos
visitar sempre que usarmos a nossa varinha de condão... Tem mesmo certa magia quando juntamos arte e educação...
Apareça no Arte em um sábado desses! Você deixa de ir à praia em uma manhã de sol, mas ganha a semana inteira!
Um abraço,
Alline Andrade
Coordenação do projeto Arte sem Limites
Vitória-ES